Colher nos vales lírios e boninas,
E galgamos de um fôlego as colinas
Dos rocios da noite inda orvalhadas;
Ou, vendo o mar, das ermas cumeadas,
Contemplamos as nuvens vespertinas,
Que parecem fantásticas minas
Ao longe, no horizonte, amontoadas;
Quantas vezes de súbito emudeces!
Não sei que luz no teu olhar flutua;
Sinto tremer-te a mão, e empalideces...
O vento e o mar murmuram orações,
E a poesia das coisas se insinua
Lenta e amorosa em nossos corações.
(Antero de Quental – Sonetos)
(Portugal 1842-1891)
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