Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

20 de março de 2014

Castro Alves: O "adeus" de Teresa


A vez primeira que eu fitei Teresa,
Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus…
E amamos juntos… E depois na sala
"Adeus" eu disse-lhe a tremer co'a fala…

E ela corando, murmurou-me: "adeus”.


Uma noite entreabriu-se um reposteiro...
E da alcova saía um cavaleiro
Inda beijando uma mulher sem véus…
Era eu… Era a pálida Teresa!
"Adeus" lhe disse conservando-a presa…

E ela entre beijos murmurou-me: "adeus".

Passaram tempos séc'los de delírio,
Prazeres divinais… gozos do Empíreo…
... Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse - "Voltarei! descansa!..."
Ela, chorando mais que uma criança,

Ela em soluços murmurou-me: "adeus"

Quando voltei… era o palácio em festa!...
E a voz d'Ela e de um homem lá na orquestra
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei!... Ela me olhou branca… surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa!...

E ela arquejando murmurou: "adeus!"


Castro Alves
Brasil (Bahia) 1847-1871
“ in Cinco Séculos de Poesia –
Antologia da Poesia Clássica Brasileira “
Seleção: Frederico Barbosa
Editor: Landy Editora
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