Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

4 de março de 2014

Maria Teresa Horta: Muito lentamente...



Muito lentamente, a custo, fecha as pálpebras
azuladas e geme baixo; um gemido contínuo,
de dentes cerrados, os punhos a crisparem-se
de cada lado do lençol e o rosto de uma palidez
de morte. Mantém os braços abertos, a respiração
presa, por vezes abandonada.
Abandonada, por vezes como que oferecida.
Tenta ainda fugir-lhe, arranca-lhe as coxas
entreabertas à pressão da sua língua, ao tacto do seu
hálito, porém, mal ele parece libertá-la ela submete-se,
ansiosa, apenas com uma ponte de rebeldia no
movimento do corpo. E o gemido torna-se mais
sincopado, contornado, entrecortado.



Maria Teresa Horta
Portugal 1937
in  “Ambas as mãos sobre o corpo”
D. Quixote Editores
photo by Google

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