Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

18 de março de 2014

Castro Alves: O Gondoleiro do Amor (Barcarola)



 DAMA NEGRA

Teus olhos são negros, negros,
Como as noites sem luar...
São ardentes, são profundos,
Como o negrume do mar;

Sobre o barco dos amores,
Da vida boiando à flor,
Douram teus olhos a fronte
Do Gondoleiro do amor.

Tua voz é cavatina
Dos palácios de Sorrento,
Quando a praia beija a vaga,
Quando a vaga beija o vento;

E como em noites de Itália,
Ama um canto o pescador,
Bebe a harmonia em teus cantos
O Gondoleiro do Amor.

Teu sorriso é uma aurora,
Que o horizonte enrubesceu
Rosa aberta com o biquinho
Das aves rubras do céu;

Nas tempestades da vida
Das rajadas no furor,
Foi-se a noite, tem auroras
O Gondoleiro do amor.

Teu seio é vaga dourada
Ao tí­bio clarão da lua,
Que, ao murmúrio das volúpias,
Arqueja, palpita nua;

Como é doce, em pensamento,
Do teu colo no langor
Vogar, naufragar, perder-se
O Gondoleiro do amor!?

Teu amor na treva é ─ um astro,
No silêncio uma canção,
É brisa ─ nas calmarias,
É abrigo ─ no tufão;

Por isso eu te amo, querida,
Quer no prazer, quer na dor...
Rosa! Canto! Sombra! Estrela!
Do Gondoleiro do amor.


       Recife janeiro de 1967



Castro Alves
Brasil (Bahia) 1847-1871
“ in Cinco Séculos de Poesia –
Antologia da Poesia Clássica Brasileira “
Seleção: Frederico Barbosa
Editor: Landy Editora
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1 comentário:

Fel de cão disse...

Gosto do leio e do que vejo por aqui. Poemas bem escolhidos e com imagens muito belas e muito apropriadas. Vou continuar a seguir....