Ai, Custódia! Sonhei, não sei se o diga:
Sonhei, que entre meus braços vos gozava.
Oh se verdade fosse, o que sonhava!
Mas não permita Amor, que eu tal consiga.
O que anda no cuidado, e dá fadiga,
Entre sonhos Amor representava
No teatro da noite, que apartava
A alma dos sentidos, doce liga.
Acordei eu, e feito sentinela
De toda a cama, pus-me uma peçonha,
Vendo-me só sem vós, e em tal mazela.
E disse, porque o caso me envergonha,
Trabalho tem, quem ama. E se desvela,
E muito mais quem dorme, e em falso sonha
Gregório de Matos
Brasil (Salvador) 1636?- 1696
in Cinco séculos de poesia
Antologia de poesia brasileira clássica
Seleção: Frederico Barbosa
Landy Editora
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