Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

21 de março de 2014

Filipe Marinheiro: Fecho os olhos...



fecho os olhos
abro-me nos teus como uma balada impune no seu sangue
oscilante

entretido percorro-te, estremeço-me nas veias singulares
depois com a ponta da língua
afável caligrafia reponho as cordas giratórias

e andas no meu imenso chão
um chão embalado p'los nossos sorrisos de cetim
só teu, só meu a transformar-se

porém nunca a concluir ou terminar salvo esse romance
nada súbito a apertarem violetas durante
jactos perfumados

decerto uma bondade eterna
eis donde chegam os meus afectos

e nas artérias de seda cristal
crias novas meigas cores novos ligeiros ares
novos amantes tons
novos endurecidos ruídos
novo auroreal amor para eu continuar a ver

a ver-te debruçada sobre mar transparente
com veludo de orvalho entre os poros
a ver-nos encalhados continuando a moldar
brancos banhos

como numa nossa gargalhada
a dormir no cume de videntes astros adentro
só dessa maneira
estaremos destinados a tais grandes coisas


Filipe Marinheiro
Portugal (Coimbra) 1982
“ in Silêncios ”
Editor: Chiado Editora

photo by Google

Sem comentários: