Entre o ser possuído e aquele saco
onde cai aquele
que irá possuir-se dele
vagueia uma outra mão em estado
revolto
seus satélites dedos
róseos
sobre a rosácea do ser
em suspensão
Mão rota franjada numa
leveza distraída
Abre-se a mão como a boca
de uma flor falando em dons
Estende-se ao pátio interior
dos seres em possessão ─
pois os dedos
são insectos poedores
põem o ovo o rastilho
no ninho da intromissão
As vezes como uma cobra
a mão só deixa a pele
e então a verdade surge:
que não há mão por baixo.
A mão para actuar
tem que sofrer as palmas
como um actor no palco
da acção que vai estrear.
Comer, peixe, o seu plâncton
do ar valer-se bebê-lo
ir dentro do mundo e vir
ou ser vírgula soleníssima
numa vida corredia
ou ser então negra beleza
ou revolta mão de cintura nova
que em tombar, mata.
Luiza Neto Jorge
Portugal (Lisboa) 1939-1989
in “ Poesia “
Assírio & Alvim
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