Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

27 de abril de 2014

António Ramos Rosa: A mulher A casa



A casa é viva
(A mulher dorme)
Dorme na espuma
nas cores puras
Dorme na espuma do silêncio

Planos brancos
e cores lisas

Dorme no vidro
tranquilo

Dorme viva

A casa é branca
É mais branca no silêncio
É mais branca entre as árvores

A própria cidade é branca


A cabra
cheirou a casa
cheirou o branco

O puro nó
do silêncio

Chego em silêncio
à mulher viva
dormindo

A casa é ela
em espiral
rodando
branca

É fino o ar
quase sem pó
uma árvore dá
uma curta sombra

Uma brisa lava
a casa fresca

A varanda nua
é seca e branca
com sede de mar

A caranda é nua
a mulher é nua

Da casa branca
vê-se o mar
o fulvo dorso
da praia
nu
mulher de areia
deitada e panda
na frescura azul

Uma vela branca
de minúcia fresca

dá ao olhar a brisa

dá ao silêncio o mar

A mulher dorme
viva
na espuma

do silêncio


António Ramos Rosa
Portugal (Faro) 1924-2013
 in Antologia Poética
Editor: Publicações D. Quixote
photo by google

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