Abandono-te todas as noites,
Troco-te pelos outros,
Por mim
Ou pelo simples sono que sempre me enganou
Desde criança.
Deixo-te ficar tantas vezes à luz duma velha lua
De queixo retorcido e rainha das bruxas
E em lugares frequentados por cães que defecam
Com o mudo amor dos donos
Sigilosamente
À trela.
Não devias esperar.
Este amor não é feito de sangue, a minha alma não
anda
nessa
rua deserta,
Nem vai, pé ante pé, contemplar o teu rosto,
Deitar-se em seguida sobre o teu corpo gelado
E limpar-te os olhos do frio
De uma madrugada
Impudica.
Armando Silva Carvalho
Portugal (Óbidos) 1938
in O que foi passado a limpo, Obra Poética
Editor: Assirio & Alvim
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