Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

27 de abril de 2014

António Ramos Rosa: Procuro no corpo uma gentileza nova



Procuro no corpo uma gentileza nova
a garua pardente de um pesado rochedo
envolto em longos enrolados e sedosos cabelos
É a densa divindade a divindade leve
dádiva de um firmamento submerso de selvagem suavidade
para além do tumultuoso desastre e da violência dos monstros
Eurídice num barco obscuro com o seu rosto de lua
sobre o seu túmulo branco entre a sombra e o canto
oferece o torso vegetal e o seu seu sombrio sangue
entre nostálgicos murmúrios e voluptuosos queixumes
Ela é a rocha a sombra adormecida
no vermelho silêncio do meu corpo ancestral
e só ela pode dar um rosto eterno ao mar
É ela que se ergue e se estende na praia
desta página aberta ao seu divino corpo
E eu que sou eu senão o seu amante
que vive do seu sopro que bebe o seu silêncio



António Ramos Rosa
Portugal (Faro) 1924-2013
in Os animais do Sol e da Sombra seguido de O Corpo Inicial
Editor: Quasi Edições
photo by google

Sem comentários: