Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

20 de abril de 2014

Miguel Torga: Mensagem


Agora, que eu dei provas de humildade
cantando o teu corpo velho,
agora, que te beijei,
que me despi no teu quarto,
agora
não ouças a minha voz
porque não falo contigo…

E como a Outra de sempre,
― aquela sem vocação
(como eu)
para dizer o que sente,
para fazer o que quer…
Agora, as minhas palavras
são para essa Mulher…

Nada de novo. Amada: como dantes
entrego-me à primeira que me chama,
durmo como ela as horas do contrato
e dou-lhe um beijo de tréguas
à despedida…
Depois… vem outra aprender
esta legenda sabida…

Só para o teu corpo eu não teria beijos!
Se viesses,
seria tanto o desespero, ou tanta a calma,
que uma palavra nesta minha boca
nem viria do corpo
nem da alma!



Miguel Torga
Portugal (Vila Real) 1907-1995
in O outro livro de Job
Editor: Coimbra Editora
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