Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

6 de dezembro de 2011

José Régio: O amor e a morte

Canção cruel 
Corpo de ânsia.
 
Eu sonhei que te prostava,
 
E te enleava
 
Aos meus músculos!
 

Olhos de êxtase,
 
Eu sonhei que em vós bebia
 
Melancolia
 
De há séculos!
 

Boca sôfrega,
 
Rosa brava
 
Eu sonhei que te esfolhava
 
Pétala a pétala!
 

Seios rígidos,
 
Eu sonhei que vos mordia
 
Até que sentia
 
Vómitos!
 

Ventre de mármore,
 
Eu sonhei que te sugava,
 
E esgotava
 
Como a um cálice!
 

Pernas de estátua,
 
Eu sonhei que vos abria,
 
Na fantasia,
 
Como pórticos!
 

Pés de sílfide,
 
Eu sonhei que vos queimava
 
Na lava
 
Destas mãos ávidas!
 

Corpo de ânsia,
 
Flor de volúpia sem lei!
 
Não te apagues, sonho! Mata-me
 
Como eu sonhei.



José Régio
(Portugal 1901-1969)
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