Tenho permanentemente sono
Vivo como um estrangeiro no
teu quarto, exilado,
Onde mesmo de madrugada já é
tarde, já é o dia seguinte,
Onde nenhum fogo aquece, é
distante,
A fornalha do sol que se
afunda no oceano.
E o silêncio cai, molda-se aos
espaços vazios,
Entre nós, entre as palavras
esparsas, na sua ausência,
(sempre.
Podia apontar-te o movimento
ascendente da lua e o
(mergulhar dos pássaros
atrás dos prédios,
Mas isso seria abrir mais
espaço que teria de preencher,
E eu não conheço o idioma e os
costumes deste degredo,
Deste canto que me apontas e
aprisionas, o dedo em riste
(que sentencia o fim das coisas.
Condenado ao inferno, não
recuso
O prazer (o teu),
A morte (a minha),
O fim (do dia)
Fugir (de volta à minha
cidade)
Acordar (não ter mais sono).
Daniel Costa-Lourenço
Portugal » Lisboa 1976
in Viajantes
Editor: Livros de Ontem
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