Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

2 de junho de 2015

Daniel Costa-Lourenço: Exilado (sono)

















Tenho permanentemente sono
Vivo como um estrangeiro no teu quarto, exilado,
Onde mesmo de madrugada já é tarde, já é o dia seguinte,
Onde nenhum fogo aquece, é distante,
A fornalha do sol que se afunda no oceano.
E o silêncio cai, molda-se aos espaços vazios,
Entre nós, entre as palavras esparsas, na sua ausência, 
                                                                         (sempre.
Podia apontar-te o movimento ascendente da lua e o
                 (mergulhar dos pássaros atrás dos prédios,
Mas isso seria abrir mais espaço que teria de preencher,
E eu não conheço o idioma e os costumes deste degredo,
Deste canto que me apontas e aprisionas, o dedo em riste
                                          (que sentencia o fim das coisas.
Condenado ao inferno, não recuso
O prazer (o teu),
A morte (a minha),
O fim (do dia)
Fugir (de volta à minha cidade)
Acordar (não ter mais sono).


Daniel Costa-Lourenço
Portugal » Lisboa 1976
in Viajantes
Editor: Livros de Ontem
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