Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

21 de junho de 2015

Se meu desejo só é sempre ver-vos: António Ferreira


Se meu desejo só é sempre ver-vos,
Que causará, senhora, que em vos vendo
Assim me encolho logo, e arrependo,
Que folgaria então poder esquecer-vos?

Se minha glória só é sempre ter-vos
No pensamento meu, porque em querendo
Cuidar em vós, se vai entristecendo?
Nem ousa meu esp’rito em si deter-vos?

Se por vós só a vida estimo, e quero,
Como por vós a morte só desejo?
Quem achará em tais contrários meios?

Não sei entender o que em mim mesmo vejo,
Mas que tudo é amor, entendo, e creio,
E no que entendo, e creio, nisso espero.


António Ferreira
(Portugal 1528-1569)
in Os dias do Amor
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