Pois se para os amar não foram
feitos,
Senhor, aquêles olhos
soberanos,
Porque, por tantos modos, mais
que humanos,
Pintando os estivestes tão
perfeitos?
Se tais palavras e se tais
conceitos,
Tão divinas, tão longe de
profanos,
Não destes por oráculo aos
enganos,
Com que Amor vive nos mais
altos peitos,
Porque, Senhor, tanta beleza
junta,
Tanta graça e tal ser lhe foi
deitado,
Qual ídolo nenhum gozara
antigo?
Mas como respondeis a esta
pergunta?
Que ou para disculpar o meu
pecado,
Ou para eternizar o meu
castigo?
D. Francisco Manuel de Melo
(Portugal 1608-1666)
in Os dias do Amor
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