olhou-o
dormir
escorregou
por entre-lençóis-quentes, virou-o
a
respiração coalhava pelas costas, ele finge dormir
solta
um ligeiríssimo e desordenado resfolegar, ao sentir o sexo retirar-se...
...amanhã
nem sequer falaremos disto
dormimos
outros
dias em que a solidão é mais cruel olha-o só
sentado
aqui no meio do quarto
frente
aos textos emendados, remediados, remendados
ferido,
ele masturba-se
depois
acorda-o, conta uma história qualquer, beija-o
sorri-lhe
com os lábios a tremerem de abelhas
...ele
continua a dormir, indiferente ao mel
vagueio
pela casa
rente
aos ângulos estreitos dos corredores, sem saber por onde fugir-me...
Al
Berto
(Portugal
1948-1997)
in
366 poemas que falam de amor
org.
Vasco Graça Moura
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