Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

2 de novembro de 2011

Momento matinal : António Teixeira e Castro

Expomos a saliva primeira
sobre o correr trépido
da coluna arqueada.
Vibra o que sente e geme
e a boca é sempre um instrumento
o perfile de uma emboscada
que o ventre astuto acicata
Perfuramos o minúsculo lábio interior
acomodado ainda num só gemido
depois, o maior, que estala
e faz descer o fluido
para sarar o lábio crestado
e o grito sobe pelo branco do quarto
agarrado a um lençol transpirado.
Das mãos irrompe o malabarismo
sobre as coxas arqueadas
todo o esplendor das unhas polidas
na fenda
na dureza que aperta
o que vai abrindo perfeito
no espavento morno
da ferida principiada.
Alucinadas unhas roídas
momentos antes da entrada.
Vai desabrochar o animal
na libido que o perpetua
numa lentidão irreparável
tão empírica
que se extenua.


António Teixeira e Castro
(Brasil)
photo by Google

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