Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

15 de abril de 2013

Com a minha morte... : Amadeu Baptista


Com a minha morte vinga a que tiveres
para que ressuscite a explosão
que ao meu corpo advém
pela táctil erosão que os teus sentidos

ampliam nos meus.
Agora lambe, inquieta. Dulcifica
a imanente tensão das minhas costas.
Procura os orifícios. Subverte

o que além do desejo é só ternura
por mais que doa a carne no espirito
e o clitóris vibre. Na tua piça

um anjo demoniaco submete
o que em mim escalda e faz tremer de frio.
Monta-me e fode-me. Diz-me que sou puta -


Monta-me e fode-me. Diz-me que sou puta.
Transgride com doçura o que a doçura empolga
e faz com que cavalgues no meu dorso
para que sequer o infinito exista

ou sinta eu o sangue
que em múltiplos orgasmos se liberta
nos múltiplos orgasmos em que me venho.
Recebe-me e afaga-me. mais lentamente,

ainda. Dizendo como digo que sou tua,
entende que ninguém é de ninguém
e por súbitas explosões é que antevemos

o que fizemos de nós e de nós fazem
os planos sucessivos que há na morte.
Diz-me impropérios. Inunda-me de esperma.


Amadeu Baptista
(Portugal 1953)
in A Construção de Nínive



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