Deixa-me ainda, amor,
debruçar-me em teu rosto,
para ver se te acordo ao menos
um instante;
e, ao cingir num abraço o teu
corpo já morto,
ver se voltas a ser o meu jovem
amante…
Dá-me só mais um beijo, o
último de todos
- mas que seja igualmente o
beijo mais perfeito!-
para que a tua alma, exilada do
corpo,
eu a possa guardar no fundo do
meu peito…
Hei-de beber-te assim a vida
que te resta,
julgar que inda conservo o que
afinal perdi,
enquanto noutro reino, entre
sombras funestas,
um implacável deus me separa de
ti.
Agora não duvido: esse deus é
mais forte,
Pois tudo quanto é belo acaba á
sua sombra.
Porque sou imortal? Porque não
vem a morte
arrastar-me também para onde te
encontras?
Bíon
(Grécia Séc. III a. c.)
in Os dias do Amor
trad. David Mourão Ferreira
in Os dias do Amor
trad. David Mourão Ferreira
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