Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

30 de abril de 2013

Deixa-me ainda, amor... : Bíon


Deixa-me ainda, amor, debruçar-me em teu rosto,
para ver se te acordo ao menos um instante;
e, ao cingir num abraço o teu corpo já morto,
ver se voltas a ser o meu jovem amante…

Dá-me só mais um beijo, o último de todos
- mas que seja igualmente o beijo mais perfeito!-
para que a tua alma, exilada do corpo,
eu a possa guardar no fundo do meu peito…

Hei-de beber-te assim a vida que te resta,
julgar que inda conservo o que afinal perdi,
enquanto noutro reino, entre sombras funestas,
um implacável deus me separa de ti.

Agora não duvido: esse deus é mais forte,
Pois tudo quanto é belo acaba á sua sombra.
Porque sou imortal? Porque não vem a morte
arrastar-me também para onde te encontras?


Bíon
(Grécia Séc. III a. c.)
in Os dias do Amor
trad. David Mourão Ferreira
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