Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

28 de abril de 2013

Sossego enfim. Meu coração deserto : Fernando Pessoa



Sossego enfim. Meu coração deserto
Nada espera da inútil caravana.
Pouco a pouco meu spírito se irmana
Com ter perdido o próprio saber incerto.

É sempre além de mim o indescoberto
Porto ao luar com que se o sonho engana.
De imperceptivel o sonho, plana
Para a vida a este desacerto.

Estagno a lagos de algas por achar,
Sinto vogar o barco das amadas.
A noite despe não haver o luar

E como um filtro de horas encantadas
Tremem os rios, gelam as estradas
No absurdo vácuo de eu não ter que amar.


Fernando Pessoa
(Portugal 1888-1935)
“in Poesia 1918-1930”
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