Sossego enfim. Meu
coração deserto
Nada espera da inútil
caravana.
Pouco a pouco meu
spírito se irmana
Com ter perdido o
próprio saber incerto.
É sempre além de mim
o indescoberto
Porto ao luar com que
se o sonho engana.
De imperceptivel o
sonho, plana
Para a vida a este
desacerto.
Estagno a lagos de
algas por achar,
Sinto vogar o barco
das amadas.
A noite despe não
haver o luar
E como um filtro de
horas encantadas
Tremem os rios, gelam
as estradas
No absurdo vácuo de
eu não ter que amar.
Fernando Pessoa
(Portugal 1888-1935)
“in Poesia 1918-1930”
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