Agora, que eu dei provas de humildade
Agora, que te beijei,
Que me despi no teu quarto,
Agora
Não ouças a minha voz
Porque não falo contigo...
É como a Outra de sempre,
- Aquela sem vocação
(Como eu)
Para dizer o que sente,
Para fazer o que quer...
Agora, as minhas palavras
São para essa mulher...
Nada de novo, Amada: como dantes
Entrego-me à primeira que me chama,
Durmo com ela as horas do contrato
E dou-lhe um beijo de tréguas
À despedida...
Depois... vem outra aprender
Esta legenda sabida...
Só para o teu corpo eu não teria beijos!
Se viesses,
Seria tanto o desespero, ou tanta a calma,
Que uma palavra nesta minha boca
Nem viria do corpo
Nem da alma!
Miguel Torga
(Portugal 1907-1995)
in Poesia Completa
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