O teu olhar naufraga
no horizonte
Plácida dama de eu
não te encontrar...
Entre os rochedos que
há à beira-mar
Que o teu
intermitente vulto aponte
E eu não mais amarei
o mar e o monte
Senão através da hora
de te achar...
Criança que ao
mistério do luar
Enrosca as tranças no
seu dedo insonte...
Não tenhas o
propósito de ter
Maneiras de viver...
Deixa-te deter
Pela passagem casual
das horas,
Deixa que elas te
esculpam o perfil
Em saudades de um ser
teu que ante choras
E não tiveste... Ah,
o luar de abril!
Fernando Pessoa
(Portugal 1888-1935)
“in Poesia 1902-1917”
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