Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

28 de abril de 2013

Complexidade : Fernando Pessoa

























São horas, meu amor, de ter tédio de tudo…
A minha sensação desta Hora é um veludo
Cortemos dele uma capa para o nosso saber
Que não vale a pena viver...
Vai alto, meu amor, o sol de termos tédio
Até ao nojo corporal de o saber tido...
Sei que vivo... Que horror! Tu és um mero remédio
Que tomo para ter vivido...
Que horror seres a mesma sempre, não te esmaga
O saber-te A Igual? És como as outras. Vaga
Dum mar de vagas sempre iguais é esta hora
De ti, ó parco Outrora...
Separemo-nos, mesmo se um de nós da ideia
Do outro, mero eco fique do outro ou reverbero...
Oh como o meu amar-te, ó meu amor, te odeia!
Com que aversão te quero!


Fernando Pessoa
(Portugal 1888-1935)
“in Poesia 1902-1917”
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