Diz-me impropérios. Espalha-me a saliva
pelos seios e morde-me os mamilos.
toca-me leve e violentamente as nádegas
e a nuca. Decompõe-me os artelhos
até que ocorra a primeira explosão.
Encontra com a língua a minha língua
e afasta-me os joelhos. Rende às coxas
a sentida carícia da vertigem, o sereno tumulto
do teu ventre. Apanha-me os cabelos,
arrasta-me e tortura-me.
com a suave tortura dos teus dedos.
Põe a boca onde o mundo principia.
Sabes que podes morrer nessa nascente -
Sabes que podes morrer nessa nascente
Penetra-me e conduz-me à segunda explosão.
Há uma especie de inferno aonde o céu
transfigura os meus braços nos teus braços.
Arranha-me os ombros, explora
os meus lábios com sofreguidão. Intensifica
sobre a coroa fluida do meu centro
o mar da tua mão
e tange-me os pés com avidez e luto
para que nada me pertença ou te pertença.
Encontra-me e perde-me. Lança-me ao abismo
onde tudo é escuro e brilha inexorável
o gozo de morrer e de matar.
Com a minha morte vinga a que tiveres
Amadeu Baptista
(Portugal 1953)
in A construção de Nínive
Carta de apresentação
O SECRETO MILAGRE DA POESIA
Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.
Excerto
in Rosa do Mundo
13 de abril de 2013
Espalha-me a saliva pelos seios: Amadeu Baptista
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